quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ouças

Escondes-te, menina. A vida ai fora é dura, e faz frio. Leve um casaco, e quando for à hora de voltar, me avise, por favor. Farei um esforço pra buscares onde estiver, frio ou não, eu vou. Sabes que vou, não sabe? Como? Deverias saber que por ti sou capaz de tudo. Mas não importa, menina. Escondes-te, cuidado. Não quero que se machuques, não te quero ver chorar, menina. És tão frágil e inocente. Pura também. E se por um acaso, menina, se te machucarem, me avise. Darei um jeito qualquer de cuidares de ti, te acalentando, cuidando. Darei-te todo consolo e amor e cuidado que há em mim. Mas te escondes, de precaução, não quero te ver triste, chorando como tantas outras por ai vida a fora, menina. Faz frio, leve um casaco. Ouça o que tua mãe diz. Não ignore as palavras dessa velha aqui, que a teus olhos pode parecer sem conhecimento algum, mas saibas que não estudei o tanto que devia, não ouvi as palavras daquela que já se foi, mas dessa vida a fora, sei demais. Então, menina, não faça descaso, não vire o rosto enquanto ouves estas palavras aqui. Elas te farão falta um dia, menina. Olhe para mim, preste atenção, ao menos essa vez. Vida a fora é capaz de qualquer coisa, ela não se importará com quem tu és, ela passa a todo vapor e se não se esconderes, menina, ela pode te levar, te jogando em qualquer canto, machucando tuas mãos. Entende menina, o que digo? Escondes-te, e se não deres, me avise, que te buscarei onde estiver. Por ti faço tudo, sabes disso, não sabe? Vida a fora te amadurecerá, menina, mas te machucará muito. Não posso evitar todas elas, mas não quero que se machuque demais, portanto ouça com precisão todas as palavras que esta velha te diz, e não faça cara feia, estou querendo bem a você, como sempre quis. E te cuidas, menina, e se não der, tua mãe te buscará aonde fores.

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