terça-feira, 29 de março de 2011

Recordações

Sua boca percorria as linhas do rosto dela em busca de seus lábios, e num dançar de hormônios seu corpo acabava por receber o dela assim, desmontando-se aos pouquinhos, até ela dar-se conta de que estava quase totalmente entregue e num surto de momento, resolvia recuar. Seus olhos a fitavam com desespero e necessidades, urgentes daquele momento, daquela mulher, e ainda inconformado com suas fugas, voltava entrelaçando seus dedos naquela nuca de cabelos curtos e fora do comum, puxando-a em sua direção, implorando por seus lábios, mas ela recuava e insistia por valsar mais alguns instantes a fora. Ela o queria por completo, inteiro, o quis e o queria nos dias seguintes, assim como todos os outros passados, mas talvez ele já não acreditasse da mesma forma. Mas tudo bem – conformava-se - o que se há de fazer quando os caminhos se descruzam por alguns segundos? Nada. Apenas esperar. E ela esperou até aquele momento, até sentir seus lábios queimarem num descompasso mútuo. Como poderiam encaixar-se tanto daquela forma? Ou estava apenas idealizando a precisão da perfeição naqueles instantes que suas peles roçavam sem mais perceberem quem era quem, por sentirem-se únicos, número ímpar que ela nunca gostava, a não ser quando ele a penetrava e perdía-se em seu íntimo? Questionava-se todas as vezes que recordava estes momentos que a marcaram, como tantos outros na companhia dele. E inclinava a cabeça para trás, já fechando os olhos tentando captar todos os toques dele em sua alma, o som da sua respiração ofegante e suas unhas roídas que buscavam afundar-se em sua pele, o cheiro do hálito quente e do suor que escorria em seus corpos, impermeáveis. Captou seus sons, gostos e toques, para na ausência não buscar seu rosto entre as quatro paredes, mas fechar os olhos e sentir novamente todos aqueles prazeres da carne e da alma, vivos e queimando mais uma vez.